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Escrito por: Eduardo Costa outubro 20, 2012



Gen Pés Descalços (Hadashi no Gen, em japonês) é uma história autobiográfica. Seu autor, Keiji Nakazawa, tinha 7 anos quando a bomba atômica atingiu Hiroshima, cidade onde morava com a família. É um relato comovente da difícil vida de uma família japonesa, vítima da bomba atômica, durante e após a Segunda Guerra Mundial. Foi a primeira história em quadrinhos japonesa a ser publicada nos Estados Unidos, onde foi incluída em uma lista de livros recomendados para escolas públicas. Transmitir a experiência da guerra, principalmente do sofrimento causado pela bomba atômica, para uma geração que não a conhece, ainda é um desafio complexo. Nesse sentido, Gen Pés Descalços cumpre perfeitamente essa missão ao trazer, para crianças e adultos de todos os lugares, um retrato honesto de emoções e experiências vivenciadas durante e após a Segunda Guerra Mundial.

Livro: “Gen – Pés Delcaços” (Volume 1 ao 4)
Autor: Keiji Nakazawa
Editora: Conrad
Páginas: Média de 200 a 250 por volume
Classificação: ★★★★ (4/5)


por Edu.

"Gen - Pés Descalços" é uma história sobre humanismo. É um mangá sobre um garoto pobre, de uma família pacifista (e por isso, "antipatriota"), em um Japão que se afunda na guerra, e que vê sua vida virada de ponta cabeça após um dos capítulos mais tristes da história da humanidade: a utilização de armas nucleares em Hiroshima.

O mangá também pode ser encarado como o testemunho de milhares de pessoas, vítimas diretas ou indiretamente da bomba atômica. Todo o sofrimento e angústias vividos ali por Gen, sua família e por outros personagens coadjuvantes, tem um fundo "autobiográfico" do próprio Keiji Nakazawa. No entanto, mesmo com toda a dor, não é à tristeza e ao lamento que Nakazawa se apega: é à esperança.

Toda a série é dotada de um otimismo juvenil, por vezes inocente, mas que contagia. O leitor não só espera que tudo ocorra bem. Nós também torcemos junto, sofremos junto e temos fé de que tudo vai melhorar! Não é um inocência tola, cega: afinal, Gen não é idiota. Trata-se de ter a capacidade de acreditar que o melhor está por vir.

O discurso pacifista da primeira edição cansa às vezes, dada a sua ênfase constante. A ingenuidade, tanto do texto como da arte, no entanto, condizem com a proposta de Nakazawa para a própria obra: que ela servisse para lembrar ao mundo o que aconteceu, e que fosse um alerta, para que nunca mais se repetisse. O otimismo do autor, muito bem expressado nos pensamentos e na história do próprio Gen, é o que torna sua obra mais leve (às vezes, até infantil), apesar de um conteúdo tão denso.

Particularmente, também me incomodaram alguns erros históricos. É compreensível que, no entanto, apesar de um excepcional narrador e por ser a obra quase uma autobiografia, Nakazawa "distorça" algumas memórias ou simplesmente queira justificar algo para si mesmo. Um exemplo é a insistência em apresentar Einstein como um dos cientistas diretamente envolvidos na produção da bomba atômica. No entanto, mesmo tais erros servem para enriquecer a obra, de certa forma, como um inestimável depoimento sobre a visão japonesa da guerra.

Por falar nisso, os costumes e tradições japonesas são muito bem retratados lá. Mesmo as situações específicas, como o comportamento da vizinhança com os "antipatriotas", é muito bem ressaltado. Obviamente que, para sustentar a série e apresentar mais fielmente o "impacto" da bomba sobre a vida dos cidadãos (com o perdão do trocadilho... rsrs), o autor utiliza de várias estórias paralelas à trama principal. Algumas são muito boas, algumas outras, nem tão boas assim. Entretanto, inevitavelmente, todas contribuem para construir um grande panorama da vida japonesa "pós-bomba".

Da série, já foram publicados 4 volumes, de um total (provavelmente) de 10 edições. A atual edição da Conrad Editora está caprichada! Para começar, ao contrário da 3ª edição, onde se fez uma péssima adaptação ao mangá, "ocidentalizando-o" (invertendo a ordem da leitura, abolindo onomatopeias em kanji, etc), a edição conta com lindas capas, ótimo papel, páginas iniciais coloridas (como no original em japonês) e introdução de Art Spiegelman (autor do clássico "Maus", sobre outra grande tragédia da Segunda Guerra: o Holocausto), entre outras coisas.

Concluindo, "Gen - Pés Descalços" é, sem dúvida, um dos relatos mais comoventes e impactantes sobre o "legado" de dor deixado pela Segunda Guerra. Ao mesmo tempo, não se trata de uma obra sobre o sofrimento, mas sobre a esperança, o otimismo e o humanismo. A mensagem deixada por Gen é a de que, não importam as dificuldades, pois sempre poder-se-á começar de novo, tentar mais uma vez e seguir em frente. Uma obra incrível sobre superação e fé em dias melhores.

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OBS: Fiquei IMENSAMENTE feliz em saber que no Youtube tem um filme em animação de Gen – Pés Descalços! E o melhor: está legendado em português! Seguindo a promessa da nova “linha editorial” do Stealing Books, uma abordagem transmidiática da cultura pop e do universo literário,  apresento a vocês a adaptação em animação do mangá. 

A animação é uma adaptação da obra, então não esperem simplesmente uma reprodução do mangá na forma de anime. Em termos narrativos, a adaptação não ficou tão boa, pois deixa de lado alguns pontos da obra que eu entendo como fundamentais. No entanto, ainda assim, vale para ilustrar a história, já que conserva a mensagem de esperança. A animação é de 1983, com direção de Mori Masaki. 


{ 13 comentários ... leia abaixo ou comente }

  1. Sempre ouvi falar muito bem dessa série, só não sabia exatamente sobre o que se tratava.

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  2. Nao conhecia! Parece ser muito bacana!
    Vou assistir o video
    Gostei da resenha e adoro mangás tb *-*

    Bjokas
    Flavia - Livros e Chocolate

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    1. Vale a pena, Flavinha. Tanto o mangá quanto o vídeo!

      Beijão!

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  3. eu conhecia, mas nunca me chamou muito a atenção sabe.

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  4. Não conhecia, parece ser legal.
    Beijos

    cocacolaecupcake.blogspot.com.br

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  5. Já ouvi falar dessa série sim. Tem boas críticas e fizeste um bom texto!
    Detesto ver Manga invertida para o sentido ocidental... faz-me confusão! Mais do que ler no sentido japonês, porque é muito confuso serem todos canhotos!
    :D

    Abraço

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  6. Não conhecia.. mas não sou muito fã de mangás.
    Mas se parar na minha mão leio sim.

    Lucas / Era uma vez

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  7. Ótima resenha Eduardo! Até hoje não li nenhum mangá, mas achei Gen interessante. Abraço!

    www.newsnessa.com

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    1. Oi Vanessa! Muito obrigado =D
      Vale muito a pena, viu? Apenas empreguei o termo "mangá" pelo fato de ser mesmo "quadrinhos japoneses" (definição do termo), mas eu a encaro como uma obra de arte mesmo, como um livro. Vale muito a pena a leitura!

      Beijão
      (e adorei seu site!)

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  8. Oie,
    desculpe o sumiço,
    adorei a resenha :)
    Gosto de manjas, só não gosto do preço deles, mas achei esse bem interessante :)

    bjos

    http://blog.vanessasueroz.com.br

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  9. Oi Eduardo!
    Meu irmão passou um mês na cada do meu primo, que é japonês de nascença e tem muitos mangás. Ele tinha esse em português (a maioria dos dele são em japonês mesmo) e meu irmão leu e recomendou. Eu desenho também e não gosto muito das ilustrações de Gen, mas adoro temas históricos e sempre quis conferir. Quando eu visitar meu primo eu pego emprestado =D

    Beijos,
    nathlambert.blogspot.com

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