Populares

Escrito por: Eduardo Costa outubro 31, 2012



O caos reina no mundo. A civilização entrou em colapso. As comunicações, a energia elétrica e a vida em sociedade, como a conhecemos, praticamente se extinguiram. Nem toda nossa tecnologia foi capaz de nos proteger e evitar que dois terços da humanidade morressem.
Os poucos que sobreviveram estão exaustos e tentam reunir o que ainda resta das suas forças e recursos para se manterem vivos. E, para piorar, eles não estão a sós. Dia e noite, são perseguidos pelos contaminados - sempre à espreita com seus olhos vermelhos, pele pálida, dentes podres e uma terrível sede de sangue e de carne humana.
Nesse cenário de terror e desesperança, Manes luta desesperadamente para manter sua comunidade unida. Ela subsiste em uma construção cercada por paredes de concreto chamada Quartel. Porém, quando alguns de seus membros estão em apuros do lado de fora, sendo cruelmente caçados pelos contaminados, Manes parte para resgatá-los. A sua ausência e a chegada do enigmático Dujas abalam severamente o tênue equilíbrio interno do Quartel, colocando em risco a vida de todos. O perigo e o medo tomarão conta deste, que é um dos poucos redutos em que homens e mulheres vivem em "segurança".


Livro: Apocalipse Zumbi – Os primeiros anos
Autor: Alexandre Callari
Editora: Ed. Évora/ Generale
Páginas: 333
Classificação: ★★★★ (4,5/5)


Por Edu.

E aí, pessoal? Tudo bem?
No dia 28/10, aqui no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de ir ao encontro de RPG “Dungeon Carioca” (mais sobre o evento, AQUI), que ocorre sempre no último domingo de cada mês. Essa edição, no entanto, foi especial: ela contaria com a ilustre presença de Alexandre Callari, um dos cabeças do Pipoca e Nanquim e autor do popular Apocalipse Zumbi - Os primeiros Anos. Não pensei duas vezes: adquiri o livro, assisti à palestra (ótima, por sinal, e em breve disponibilizada na net), bati um papo com o cara e depois ainda passamos a tarde jogando RPG!

De toda forma, devorei o livro, e, abaixo, segue a resenha com uma rápida entrevista que fiz com o autor, que me atendeu com toda a gentileza e atenção. Sendo assim, sigamos.

RESENHA

Me atreveria a afirmar que Apocalipse Zumbi não é um livro sobre zumbis, mas sobre os humanos sobreviventes.  O cultuado diretor George Romero já dava sinais em seus filmes de zumbis que, apesar destes serem o principal elemento das histórias, eram as tramas e desafios que se desenrolam aos que restaram da humanidade que realmente importavam. Callari segue a mesma linha e consegue escrever uma história fantástica, onde a atenção do leitor é completamente presa do começo ao fim, aflito a todo o desenrolar da narrativa.

Na trama, que se passa 4 anos após o "Dia Z", um grupo enorme (para os parâmetros de um mundo pós-apocalíptico) refugiou-se em um antigo centro de treinamento de segurança privada (batizado de Quartel Ctesifonte, ou só "Quartel"). Nele, situações inusitadas e intrigas pessoais desestabilizam gradativamente a harmonia do lugar, influenciado - direta ou indiretamente - na segurança que o local oferece. Do lado de fora, uma legião infindável de zumbis (surgidos de um Apocalipse que ninguém sabe, e sequer se importam, como começou) os aguardam para devorar-lhes as carnes, num ímpeto de fúria e insanidade.

O livro conquista o leitor logo no prólogo. E Callari não tem medo dos fãs mais ortodoxos do gênero, dando sua própria leitora ao "universo Z". Para começar, seus zumbis não são os tradicionais "lerdões" canibais, gemendo e perambulando por aí em busca de carne fresca. Ao contrário, seus zumbis tem características muito peculiares, que lembram os contaminados dos filmes Extermínio e espanhol Rec. Olhos vermelhos, veias salientes, mais fortes e mais rápidos que os não-contaminados. Além, é claro, de serem dotados de uma fúria insana e um implacável instinto canibal. Interessante também observar que o autor trás uma perspectiva obscura dentro do gênero: a do próprio contaminado e de todo o processo de transformação do homem em uma monstruosidade. 

O mundo de Apocalipse Zumbi conta também com uma série de recursos à sobrevivência que não costumam haver em outras obras do gênero. Alexandre comentou em sua palestra que fez uma criteriosa seleção do que funcionaria ou não no seu mundo. Isso dá um toque pessoal a trama e ao universo zumbi criado pelo autor, inclusive. Contudo, importante ressaltar aos fãs ortodoxos o fato de que ter eletricidade e água, e não ter celular, por exemplo, funciona sempre em prol da própria trama.

Como disse anteriormente, a história se passa 4 anos após o dia do Apocalipse Zumbi ("Dia Z") e os eventos do livro, em 24 horas (ou quase isso). No entanto, por ter se passado tanto tempo após o começo do caos, Callari termina por criar toda uma "mitologia" ao seu cenário zumbi. Para vocês terem uma ideia, os eventos mencionados no livro, quais que sejam, são "datados" em A.A. e D.A. ("Antes" e "Depois do Apocalipse"). Isso dá para dar uma dimensão do negócio... rsrs. Afinal, um evento tão drástico para a humanidade só poderia dividir mesmo sua história em "antes" e "depois"...

A capa do livro é muito foda, apesar de o livro pecar nas ilustrações internas. Algumas são boas, mas a maioria não é. Já os capítulos são curtos e a narrativa é muito boa. Particularmente, adoro capítulos curtos por darem  um ar meio "cinematográfico" à narrativa, além de torná-la muito mais dinâmica (e dinamismo é algo imprenscindível quase se fala em zumbis... especialmente os que correm!). Contribui também o fato de Callari ter um estilo narrativo flúido e fácil de se ler, o que prende ainda mais o leitor ao livro. 
Apesar de muitos aspectos positivos, óbvio que o livro não é perfeito (e não é desmérito algum, pois está para ser publicado um que o é). Em certas situações dentro da trama, o leitor apenas se pergunta "Mas por que diabos esse cara insiste nisso?" ou "Putz, como?!". A motivação dos personagem em certas atitudes é duvidosa e, apesar do "quê" filosófico que Callari dá aos seus personagens (como o próprio protagonista, Manes, inspirado no fundador da corrente filosófica do "maniqueísmo"), algumas coisas parecem não se encaixar. Talvez lacunas (poucas, até) que os próximos livros tratarão de sanar.

Apocalipse Zumbi - Os primeiros anos é o primeiro livro de uma trilogia. O próximo vem em 2013, e já estou muito ansioso pela continuidade. O livro, inclusive, inclui um CD (um "mimo aos leitores", como comentou o autor comigo) que contém músicas de metal (pesado) e com letras em português que remetem diretamente ao livro e suas tramas. Particularmente, gostei bastante do CD, que não deve ser encarado como trilha sonora, mas um "adendo" transmidiático ao cenário criado por Callari.

O livro também conta com um book trailer, que ficou legal, apesar do evidente falta de recursos. No entanto, como ferramenta de divulgação, é absolutamente dispensável. Claro que valeu o esforço, mas o evidente amadorismo da produção, apesar de legal para um círcuito de fãs, termina prejudicando o marketing do livro (pelo menos ante ao público nerd, que amam criticar tudo e todos). Segue o vídeo:



ENTREVISTA

Abaixo, galera, segue o bate-papo que tive com Alexandre Callari. O cara é uma figura, super gente boa e extremamente solicito. Agradeço mais uma vez toda a atenção dada a mim, como leitor e como redator do Stealing Books.

_________________________________________________________________

Edu - Para iniciar, o começo de tudo. Quando você foi inserido na cultura pop/nerd? Como começou a trabalhar com isso?
Alexandre - Desde criança sou fanático por cultura pop, desde antes de o termo existir. Sempre gostei de música, filmes, quadrinhos e livros dos mais diversos gêneros, relacionados ao universo pop. Comecei a colecionar quadrinho em 1987, mas já os comprava esporadicamente desde antes. Hoje, minha coleção ultrapassa os 15 mil exemplares, contando com HQs raras desde os anos 1930. Quando adolescente, trabalhei em uma locadora de vídeo (ainda não existia DVD) e como podia pegar filmes de graça, assisti uma quantidade assombrosa de produções de todos os gêneros. Daí para frente, o crescimento do interesse foi exponencial.
Em 2009, ano em que o Batman completava 70 anos, resolvi montar um projeto para celebrar seu aniversário. Assim, preparei uma exposição dos meus quadrinhos raros, que foi acampada pelo SESC Pompeia, de São Paulo. Ela foi um verdadeiro sucesso (e minha primeira incursão profissional trabalhando com cultura pop) e rodou diversas unidades do SESC do estado de SP. Iniciativas públicas e privadas também demonstraram interesse na exposição (que era acoplada de palestras e oficinas) e ela acabou viajando para outros lugares, com destaque para Brasília e Manaus.
A seguir, por conta de uma edição da exposição, conheci meus amigos e hoje meus sócios no site Pipocaenanquim.com.br. O site tornou-se minha grande vitrine e comecei a mergulhar mais e mais nesse universo. Em pouco tempo, apresentei festivais de cinema de terror no SESC, traduzi obras como Conan – o Bárbaro e Nos Bastidores do Pink Floyd, colaborei para a revista Mundo dos Super-Heróis, tornei-me editor das revistas da DC Comics no Brasil e, claro, lancei meus livros: a série Quadrinhos no Cinema (Vols 1 e 2), Branca de Neve e Apocalipse Zumbi: os primeiros anos.

Edu - Quando você percebeu que chegaria "a hora dos mortos" (com o perdão do trocadilho... rsrs)? De onde surgiu a ideia de escrever um romance sobre o gênero zumbi?

Alexandre - Como sou bastante antenado nas tendências mundiais, ainda em 2009 previ a ascensão dos zumbis – um movimento que ganhava força progressivamente desde que Madrugada dos Mortos reviveu o gênero no cinema. O projeto ocorreu por acaso – uma brincadeira que fiz com a editora, mas que foi levada a sério. Assim, Apocalipse Zumbi é um amálgama entre projeto autoral e comissionado, na verdade é autoral na medida em que eu tive 100% do controle criativo do processo, mas é comissionado pelo fato de a editora ter solicitado que eu redigisse um projeto (bastante completo, por sinal) que justificasse a publicação do livro, pensando num viés financeiro.

Edu - Para os nossos leitores ávidos pela escrita, como foi seu processo criativo, sua rotina para escrever o livro, etc?
Alexandre - Acho que não sou a pessoa mais adequada para dar dicas sobre isso, por que de acordo com o que pude averiguar conversando com outros colegas da área, meu processo criativo não se parece em nada com o dos demais escritores. Mas vamos lá. Tenho muita disposição para escrever. Esse é um ponto fundamental, pois passo horas tendo o Word como minha principal companhia. Mas, para mim, disposição é vital, porém não basta. Eu nunca consigo escrever nada, enquanto não tenho a ideia completamente fechada na minha cabeça.
É um processo muito trabalhoso e desgastante (pois me leva a uma fadiga mental muito grande), que funciona da seguinte maneira: eu começo a elaborar a história em sua completude, o que inclui a trama principal (e por vezes algumas subtramas), construção dos personagens, definição do discurso de fala de cada um, estrutura narrativa, etc. somente quando tudo isso está absolutamente claro na minha cabeça (o que pode levar meses), é que consigo efetivamente escrever. Por mais que eu tente fazê-lo antes, o resultado é sempre medíocre e acabo tendo que refazer o que escrevi. Porém – é isso é o mais legal – uma vez que tenho tudo definido, a história passa na minha mente como um filme, e a redação do texto é relativamente rápido.
Uma vez tendo terminado a primeira versão, deixo o texto decantar por um período aproximado de um mês e depois o retomo, fazendo uma revisão apurada. Aí, só volto a travar contato com o texto quando ele volta da revisão.

Edu - No livro, os seus zumbis não são necessariamente "mortos", e possuem características peculiares. Quais as suas referências dentro do gênero e da cultura nerd em geral?
Alexandre - Tudo relacionado a zumbis. Não trabalho com os “mortos”, mas ainda asism, Romero é a minha principal influência. Extermínio foi um filme que deixou uma impressão duradoura em mim, assim como Rec, mas na verdade, há centenas e centenas de referências que poderiam ser citadas.

Edu - Como você percebe sua contribuição para o gênero e para a produção literária nacional? Afinal, você abriu precedentes no mercado editorial, que é escasso de livros sobre o tema...
Alexandre - Eu fui o primeiro e isso tem aspectos positivos e negativos. Você se coloca na linha de frente e, se por um lado passa a ser referência para os demais, por outro precisa tomar todas as porradas necessárias para abrir o caminho. Você lida com o público e, acredite ou não, há os que apoiam autores nacionais e os que execram (em ambos os casos, sem terem lido o material). As pessoas podem ser bastante cruéis e mesquinhas na Internet, mas você aprende a lidar com isso. Há também a resistência dos livreiros de disponibilizar uma obra com esse teor de um autor pouco conhecido, então é mais uma barreira a ser quebrada. Não dá para viver disso ainda, então você equaciona milhares de dificuldades com o seu dia a dia, ou seja, o trabalho que você faz para pagar suas contas. Enfim, é uma luta.
Por outro lado, quando o livro começou a ser bem recebido, receber resenhas positivas, a vender bem, o sentimento é impagável e indescritível. Sinto certa responsabilidade hoje, mas não mais como pretensão de ser referência, mas sim com o público que adquiriu meus livros e gosta da minha obra.

Edu - "Apocalipse Zumbi - Os primeiros anos" é o primeiro livro de uma trilogia. O que você pode nos adiantar sobre os próximos volumes da série? 
Alexandre - Apocalipse II será lançado em março. O texto está pronto e sendo revisado neste instante. O subtítulo é Inferno na Terra, o que dá uma ideia de que o bicho vai pegar. Vocês só não imaginam o quanto. A seguir, começo a redação imediata do terceiro volume. Isso fecha a história que criei inicialmente, mas nada impede que no futuro, eu retorne a este universo que criei.

Edu - Para encerrar, uma pergunta supernerd que não poderia deixar passar: zumbi que corre e grita, ou arrasta e geme? Rsrs...
Alexandre - Zumbi que corrrrrrreeeeeeeee!!! Um abraço a todos!   


É isso aí, galera. 
Grande abraço a todos e boas leituras =D
 

{ 4 comentários ... leia abaixo ou comente }

  1. Adoro esse tema. Acho super bacana mesmo que estteja na moda e todo mundo fale disso.
    Parece ser bem legal e vai pra minha lista de desejados!
    Parabens pela resenha e pela entrevista!

    Bjokas
    Flavia - Livros e Chocolate

    ResponderExcluir
  2. acho que esse livro vai para a minha lista de desejados
    adorei a resenha, foi bastante interessante.

    ResponderExcluir
  3. Oi Eduardo, tudo bom contigo?
    Ei, eu gostei do trailer do livro! Meio trash mas bem feito. Já tentei (ainda tento, mas deixa baixo) fazer um filme (de terror. À lá Marble Hornets, não sei se já ouviu falar. Vale a pena conferir) e é mesmo meio difícil conseguir bons ângulos. Até por que ninguém aqui é diretor de cinema e né D=
    Bom, adorei sua resenha! É sempre bom ter mais um livro nacional que a gente pode ler e falar "esse sim, hein!". Eu também gostei muito da capa, haha.
    Eu costumo correr de livros ilustrados que não seja infantis. Ilustrações servem para dar um clima mais infantil à história. Mas se as ilustrações internas forem tão legais quanto a da capa, acho que vou gostar. Mesmo você dizendo que não, uhsuahsuahs
    Bom, só para terminar esse comentário monstro (desculpe o trocadilho): ZUMBI TEM MAIS É QUE CORREEEEEEEEEER!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Beijos,
    nathlambert.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. Oi oi!
    Sinceramente não sou uma pessoa que gosta dos temas que envolvem "Zumbis".
    Mas esse livro em especial me causa uma certa curiosidade em relação a esse mundo estranho, quem sabe eu leia ele em algum momento.

    Beijos da Lua =*
    www.tyciahadiresenhas.blogspot.com

    ResponderExcluir

- Copyright © Roubando Livros - Date A Live - Powered by Blogger - Template Base por Johanes Djogan -